Logo depois do tuíte realizado pelo ministro de saúde da França, Oliver Vénan, no dia 14 de março, alertando sobre o uso de ibuprofeno e a possibilidade de agravamento dos efeitos do coronavírus, inúmeros espaços de comunicação compartilharam a informação, gerando dúvidas.
A situação aconteceu pois o ministro utilizou dados que já foram desmentidos e um artigo intitulado “Are patients with hypertension and diabetes mellitus at increased risk for COVID-19 infection?” (“Pacientes com hipertensão e diabetes mellitus têm risco aumentado para infecção pelo COVID-19?”), publicado pela revista The Lancet, no dia 11 de março
O artigo demonstra que os coronavírus ligam-se à células-alvo do organismo por meio de uma enzima conversora de angiotensina-2 (ECA-2), expressa em células dos pulmões, intestino, rins e vasos sanguíneos. Essa enzima pode ser encontrada em grande número em pacientes hipertensos e diabéticos pelo uso de anti-hipertensivos e hipoglicemiantes, prejudicando a gravidade e aumentando a suscetibilidade à doença. A informação sobre o ibuprofeno, no artigo, não traz referências, apenas cogita que o medicamento pode influenciar no aumento da enzima.
A recomendação do ministro converge com as orientações médicas sobre o uso de qualquer anti-inflamatório, que não deve ser usado para dor/febre comuns. Além de mascarar quadros infecciosos, o uso do ibuprofeno, nessas situações, pode prejudicar a proteção gástrica, coagulação e cicatrização. Por isso o medicamento não é recomendado indiscriminadamente para amigdalite, por exemplo.
Agentes como anti-inflamatórios não esteroidais (como ibuprofeno, diclofenaco, nimesulida etc.) e esteroidais (como os corticoides), devem ser restritos a casos inflamatórios importantes, como em doenças crônicas, sendo delegado ao paracetamol ou à dipirona, casos mais simples. Sendo assim, o ministro não errou completamente, mas a “proibição” do uso não foi o mais indicado.
Nesse sentido, a destruição de bactérias benéficas no corpo humano pelos antibióticos, por exemplo, seria uma recomendação mais pertinente. Além de não aplicar qualquer efeito em relação ao coronavírus, o uso desse medicamento favorece o fortalecimento de bactérias resistentes, que podem gerar uma grande infecção futura.
No contexto mundial de preocupação, a divulgação de uma informação como essa pode prejudicar o entendimento coletivo. A situação pode gerar a compra indiscriminada de paracetamol, desabastecendo os estabelecimentos ou o receio da utilização por pessoas que dependem dos anti-inflamatórios para doenças crônicas, que podem adoecer ao deixar de utilizá-los, sobrecarregando o sistema de saúde. Por exemplo, uma pessoa asmática que depende de broncodilatadores e anti-inflamatórios que suspenda a utilização por medo, pode vir a apresentar crises respiratórias e depender de um atendimento hospitalar que estará focado em combater a pandemia.
Portanto, não há, ainda, qualquer pesquisa que garanta a contraindicação do uso de ibuprofeno durante a infecção pelo SARS-CoV2. A questão está sendo estudada pelo Comitê de Avaliação de Riscos em Farmacovigilância, uma vez que a Agência de Medicamentos Francesa solicitou assistência sobre o assunto, mas terá respostas apenas em maio.
De qualquer forma, o uso do medicamento deve estar de acordo com as recomendações do Ministério da Saúde e da Organização Mundial da Saúde. Cada caso confirmado será avaliado individualmente para a possível suspensão de qualquer medicamento. O principal foco, agora, é a adoção das medidas preventivas para evitar a propagação do vírus.
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